a crítica estampada no badalado jornal era maledicente, fantasiosa, apócrifa – desde o primeiro livro, resenhistas, filósofos, intelectuais e outros covardes embirraram com o estilo da escritora: atacavam um suposto beletrismo, os entraves de lógica, a racionalidade embiocada em metáforas difíceis, subterfúgios para justificarem a inveja, o ciúme: eles são assim, leem a primeira página, lambiscam resenhas chinfrins e se vendem por essas trivialidades: ela foi se cansando – reconhecimento após a morte?, se nem deus compreende o que há depois do pó e não há como tirar proveito de um sucesso póstumo – apesar dos prêmios, só vendia o hermetismo para amigos condescendentes, mas não era trivial descer para o rés-do-chão, pois a vaidade se queixa, nada como a bajulação, a banheira de hidromassagem, o sexo pago e o vinho português para domesticar um gênio, de forma que sempre era possível se submeter a uma conta mimada por depósitos constantes: a autoajuda não era o fim, a julgar pelas matérias sobre a escritora, estagnadas no costumeiro mau-gosto: literatura é uma questão sexual e, neste quesito, há muita gente ressentida – tornou-se best seller – sentia falta do desafio intelectual e um clichê adequado era algo moroso para ela, os novos calhamaços lhe saqueavam considerável parte do dia, se continuasse assim a estética lhe cobraria uma depressão, o jeito foi resolver o conflito: nas noites de autógrafos, levava uma hora para redigir meia dúzia de dedicatórias, todas legítimas obras-de-arte: insondáveis, líricas, apocalípticas, indecifráveis, jocosas, lascivas, como são as vinganças.