contos

i

 

encontrei no álcool um pai, desde a noite alagadiça em que as desculpas se converteram em candeias e negrumes. e fui educado para respeitar essas coisas de família. circundando a ilha artificial, onde foram assentadas as muralhas da chácara, uma represa experimentava esconder em seu leito as vidas (e quiçá as mortes) de que não nos daríamos conta, embora as daqui de dentro não superem as outras em importâncias ou condolências, e mesmo a água, que latejando imprima ao ar a revolta de sua barriga ruidosa e inconveniente, que algum dia também sepultaremos em seus abismos os amados que ancoramos temporariamente na terra, luxuosas lápides que lacrarão as estruturas aniquiladas, passeios de submarino pela necrópole inundada, no dia de defuntos. ou é apenas o rumor da festa em seu trajeto de fim, não sei, embora nada vagalumeasse no céu quase desbotado, e aqueles olhos desamparados. os meus eram duas manchas alargadas pelo cansaço e a consciência de um único sono, quando a madrugada, abraçando o esplendor de um início de dia, decida partir.

 

ainda é precária sua audácia de bêbado e a minha vista alcança somente o que não pode ver, e não vê o carvão fundido em magma, mais um ou dois êxtases de chama e depois as cinzas, nem o balé do rabo hemofílico de um gato vadio, nem o capim aspirando a espessa graxa da noite, nem a comida meio fermentada que você despejou de seu estômago aos pés de um vulto que dorme ou morre, tampouco as artérias dessa laranjeira sem forças para sumir daqui. o verde sonolento da mosca que suga os carcomas de buchos largados numa quina de grama, o alvoroço tardio da cerveja despejada no copo untado e solene daquele que já nem sabe por que bebe. ainda em breve toda essa preguiça se mortificará com a raiva trazida pela pressa do esquecimento, ao se assemelharem à tropa uniformizada para a vistoria, que se apresenta ao comandante somente porque é hora. e a calda comprida do sangue que navega pelos canos congestionados da carne, em pesadas acelerações de surtos, quando o arquejar desse sono infrutífero finalmente ceder seu posto ao desespero. o trote, a faina das mesas em que alguém resiste ao enigma do baralho, vacilando entre o tédio e a vontade de existência, quantos tragos a mais? a cerca tomada pelas heras e curiosos labutando a fofoca do dia. o barco se debatendo na injusta armada rumo às pedras.

 

a corrida.

 

a energia represada e indócil apalpando o entulho do medo, recuperando desses destroços a compulsão saturada da dor. os braços e as pernas se debatem em direção a uma praia, que areias e águas desistiram de encontrar. as mãos arqueadas escavando as pequenas ondas e de vez em quando abandoná-las, permitindo que a umidade assombre a respiração já entrecortada de espasmos, a cerrada penugem de algas, a vitalidade de uma conclusão que somente eu viverei, e a solidão desse vácuo renegado pela biologia, e o útero que me carrega para o retorno, e a pele láctea, e um ou outro peixe desprezado perto de latinhas de cerveja, camisinhas, bonés, e a poeira esvoaçada numa fundura de metros, agora é estar longe demais para tudo. a aragem apodrecida, três ou quatro que me acenam, vagarosos e assustados, não lhes cairia bem um afogamento, percebo que caminham para a embarcação e me deixo, sei que haverá tempo até que me encontrem. patas sulcando a concessão das águas, que se afastam para o parto, um trinado de aragens dando vez ao mugido uníssono de uma porosa e egoísta preocupação, que roguei me levassem às dunas de cimento e lodo, à lama firme, à carnificina do churrasco, à repugnante farsa dos esclarecimentos. a cólica das horas em sua companhia, o seu rosto a devorar o apetite de outras polpas, a vontade de destruir tudo que me pede, com desdém e inércia que me acalme.

 

o velho se diverte com a falta de dentes, ei tio, bebeu a dentadura?, enquanto escancaram suas arcadas repletas de amálgamas e humilham o mais reles dos bípedes, sem se recordarem dos rebaixamentos a que se sujeitam todas as horas, inclusive ali, onde até o fio que os livra das farpas da picanha pertence a outro.

a cerca, o muro, a estrada de terra, a horta em desalinho, o pomar que não se abate com a falta de regas, as telhas e seu latido de argila, o caboclo que enrola o marasmo em um cigarro de palha, e o tamborilar dos cicios se afastando de meus tímpanos, e o coaxar das trepadeiras estapeadas pelo vento, agarradas a um discreto muro em frente à casa, o portão com suas veias metálicas, depois.

 

outrora eram as manhãs do pão, cavoucar a sua pele erodida, ressecada pelos bafos do velho forno a lenha, na solitária ceia dos que acordam muito cedo, e tatear a fenda em que cravarei o dedo à profundidade das vinganças, e de lá trarei um embrião de farinhas e ovos, consumido em polpas e bactérias, até à pressa da fome. os dias em que um bisturi retalhava as nuvens numa gana sem método, expondo nossos crânios à vaidade do sol, o asfalto inchado de espinhas que as unhas dos carros cutucavam sem cessar, as gordas e seus leques de papelão, as lojas tecendo uma monotonia de teias ancestrais, como se até o silêncio renegasse aquele fim de mundo e em seu lugar, vazio. as noites do mormaço e suas velhas a grasnar sobre o destino do vilão da novela da hora, a cal apodrecendo nos tijolos de seus pesadelos, e o filho chupado pelo relento da ambição, em metrôs de mágoa e crimes, na pressa de esquecer que a morte, como de costume, marcha muito à frente desse nosso trote imbecil, ou às nossas costas, de maneira que só a encontramos quando ela deseja.

 

a caruma de algodão a apagar o diminuto pêssego dos seios, helena, o coxear das pálpebras na desolação do porre, o uivo dos alto-falantes ditando a granulosa cadência das pernas, é que a válvula, libertando o sangue, rompe o dique das mentiras, os veludosos tubos que avizinham a pele, um enigmático emaranhado de tripas, e a vida mais rápida do que a vida. ali fora um labirinto de alvenaria e demência. contudo, helena, é essa rouquidão do tempo que me deleita, é esse eco de gemidos que me afia a inveja, e, portanto, quando a sua língua, num desleixo de atriz decadente, coça o bigode gangrenado de alguém, já não sei se é para me desafiar ou se por acaso é parte daquele seu teatro, que ultimamente vem, com destreza calculada, chamando de “busca pessoal”.

 

desde o último pondera, já de uma semana ou mais, que rateia a vista, que me arremessaram um túnel à cara, tão mal iluminado, helena, que nem mesmo os megawatts do meio-dia me convencem da certeza da tarde. e a irreprimível ânsia de escapulir para onde não existam a prima embriagando-se com o próprio mijo, agachada como uma rã na imbecilidade de seus doze anos, nem o chá com bolachas de nata, nem a tia decompondo-se embaralhada com a ferrugem dos nervos. era a coca-cola de criança que eu queria, helena, que minha avó guardava para os netos preferidos e eu não me incluía entre eles, desejava o veneno enquanto meu corpo saudável podia, a ardência borbulhante cara demais para a mesada que nunca recebi.

 

e a coluna range o sedentarismo de anos, esse desânimo de líquen, em que, serpeando pomares alheios, descobre um ajuntado de cimentos e pasto, um préstito de formigas e sua ladainha de escravas, o rugido sigiloso de pernilongos e uma árvore murcha que ladeia algumas paredes arrasadas pela violência da idade.

apalpando esse enigma de nadas é que, debaixo das telhas cozidas na gordura das pernas de negros, um chiado de ausências açoita-me as orelhas e não apenas ele, também uma cantilena de medrosos, e é para mim que se viram e por mim se silenciam. a estridência da mudez na minha segurança de sombra, outra aparição. ali, bem logo ali, um tablado e uns trapos que irradiam pudores de músculos e unções de brilhos, indiferentes ao absurdo de sua presença, desde a boca, narinas e orelhas de uma velha amarrada a uma cadeira. e relinchos de sustos.

 

e por trás desta resina, helena, testemunho o molde de minha tia, aquela que entregou o intestino, do estômago ao ânus, para a chacina do câncer. antigamente não demonstrava esse acanhamento nem ao me ordenar que, nu, seguisse para o banho, quando friccionava meus pés até a dor do sangue e ainda assim não me achava limpo. que imundície era aquela que só ela pressentia, helena? o grupo aprovava minha perplexidade, afinal a criatura vomitada pela velha inconsciente se dirigia a mim. uma aranha içava seu abandono, esnobando as silhuetas que gesticulavam sua incredulidade de covardes e eu, persuadido de que era em vão a náusea de qualquer diálogo, ilegítimo, uma devoção de heresias a boiar na nódoa do absurdo, neguei-lhe sua pompa de fantasma, só queria sair daquela casa.

 

e todavia, helena, era pilhar dos símbolos a praxe de uma verdade inapelável.

 

dilacerar o escuro, essa espuma de piche, a mobília devastada pela selvageria de cupins. então, helena, rumar para onde?

 

para as ruínas de um inapreensível natal, para a fanfarra no pulmão de meu avô, para sua tosse aquosa e seu catarro betuminoso de cardíaco, para o heróico cadáver a perseguir um último fôlego, para os quartos pantanosos onde o futuro pestanejava num cochilo desanimado, o cricrilar das palhas e molas do colchão enquanto eu me virava, ao tentar, mastigado pela penumbra, um arranjo para meu tronco, e o pudor por um ruído que pusesse em perigo, no cômodo ao lado, a fúria do sono de meus avós.

 

e na barriga um bordado de talhos e linhas, uma pavorosa cloaca desdentada, que exibia como a penúltima ceifa do fim, e dali um odor de escórias, ela, acuada pelos remédios, hospitais, médicos, enfermeiras, faxineiros, castrada pelo ódio da quimioterapia, ainda brincava: agora mais um buraco onde ele enfiar aquilo.

 

para a musselina, que em criança não tinha essa entonação de terna condescendência, helena, e avisto um início de corpo, encaixilhado pela angustiante borda de seus vinte anos, que é onde farejo o fim dessa inquietação abrupta, que é um chapeado de praias grudado na pele revestindo sua usual depressão, que é o apito de recolher, que é uma história de desdém encravada nos vincos da testa, que é essa tríade de sobrenomes que lhe dá o dinheiro e a arrogância para amansar o mundo, que é.

 

às baratas impacientes que surfam nas folhas das seringueiras, pontilhando as travessas com sua agonia de excrementos, ratos famélicos, cautelosos, vigiando as presas, e já não adivinham quando beliscarão outro cadáver, a modorra embirrada em suas costas, o céu um borrão alaranjado empestando de calor a brisa, os mortos cozinhando em seus poços envergonhados, onde até os ossos vizinhos suam. é assim que os quarenta graus turbinam a viagem ao pó, assim que me questiono das roupas, helena, não seria mais acertada uma morte nua nestes trópicos que inspiram até o inferno?, assim que folgo meu colarinho ao contemplar o corpo e sua pesada manta de flores e brim, neste velório, em que só o cristo tem razão no frescor de seus braços esticados e nos exíguos trapos que lhe ocultam sua parcela de homem, até o ventilador mira sua cruz na parede, como se compreendesse de hierarquias.

 

para o declive da poeira que ondula pela estrada, o prédio solene e uma música arriada, pares valsam sem coragem, novos demais, velhos demais, por enquanto mutilados de suas penúrias, num baile sem porquê, a arisca discordância de instrumentos maltratados, os músicos e a fadiga das três notas que dedilham, como espantalhos a afugentar bemóis que solfejam das botas e tamancos daquelas criaturas sem motivos para existir, um nada engastado num nada maior ainda.

 

entretanto, helena, é um estremecimento de rancor que me roça o lombo, curtido pela impiedade das surras, quando me presto a incontáveis atividades, que apanho as compras da velha em frente, que busco as encomendas do protético, que caminho com o poodle da madame, que barganho minha vontade de comprar um gravador, e o porquinho cada hora mais gordo. era emprestar a epiderme para seu desafogo. até que, fariscando sua raiva, ouço-a esbravejar meu nome e, sem que desconfie, transfiro para fitas o ruído da fivela estigmatizando minhas costas, o desesperado ganido dos que a vida inteira nutrirão o remorso de sua covardia, e acho que isso explica os armários estufados com antiquados cassetes e creio inclusive que possa deduzir o significado daquelas indicações nas lombadas, aço1, bronze2, alumínio1, latão3, quando, helena, iniciei um inventário de metais, que meu curso de engenharia só alcançou aperfeiçoar.

 

neste instante em que a lepidez renuncia à delicadeza de seu rosto, que a imponência de sua vida pronta resvala nos calcanhares e nas coxas de uma ladina pela qual seu pai se apaixonou, que a transcendente temperatura do seu martírio imprime uma tragédia definitiva em seu semblante, só lhe sobra o lugar-comum da memória, e essa rajada de escárnio embebida em doses dispersas de inveja renteia seu orgulho, quando perguntam “de que experiências tanto se recorda aí, dessa altura simulada pelos dez centímetros de seu tamanco, pelo empinar do nariz e pela oportunidade que qualquer um tem de escoltá-la a um quarto, desde que logrou se passar por uma jovem independente de dezesseis anos?”

 

enquanto a margem sedutora da escuridão encobre em seu breu a nova manada de gatos, enquanto do corredor espiono o arquejar coagulado de um casal no banheiro de minha casa, um resfolegar de calças, um arregaçar de vestidos, enquanto os abutres planejam a podridão de todos os bichos, as bostas das pombas, dos pardais, das rolinhas, as merdas de todas as aves acasalam desesperadamente na varanda do barraco de meus avós, uma neve fedorenta a pairar no muro em que me sento sem nojo, enquanto o barulho metálico, o conhecido retinir de bielas, anuncia a visita de meu tio, enquanto no prazer do sono o perfume do azeite de um isqueiro perfilava a vitória esfumaçada do próximo cigarro de meu avô, enquanto tudo isso se passava, helena, você crescia alheia ao tráfego das horas.

 

para os flocos de terra que os pneus da moto projetam em minha camisa, aprisionado numa chuva empoada, o cacarejar de galhos secos deixando as árvores em saltos bruscos, para a prima e seu rosto manchado de maquiagem a elogiar os sapatos antiquados que acabara de ganhar, esse plácido sorriso que antecipava suas explosões, helena, não faz frente à potência persuasiva do espetáculo familiar a que assistia cotidianamente, horrorizado por presumir o que me tornaria mais tarde, essa adejante lagarta.

para o licoroso contrato dos bares, onde o vapor das conversas entala nos copos, nas garrafas faiscantes de cerveja, e sobretudo, helena, para o pesadelo exumado da vertigem a que se reduziu a verdade, a recorrência do espantalho, dos corvos esgrimindo seus bicos contra a grimaça das palhas, e uma borboleta agarrada ao seu nariz, em cada asa tatuado um olho, de modo que, helena, quando o vento atiçava o balé daquelas folhas e o tórax se prendia ainda mais ao rosto do boneco, era como se no abre e fecha, o palhaço procurasse enxergar as aves desfocadas, era como se ao chacoalhar os retalhos da vista pudesse enxotar seus carrascos, era o que podia ser feito com os pulsos algemados ao galho, o corpo sumarento e delicado de forragem e a passividade de quem nunca pôde desenterrar as próprias raízes e visitar novas plantações.

 

para as traças projetando seus túneis nas mofadas revistas de faroeste de meu pai, para o fila e sua docilidade de besta, para seu nome, canhestra homenagem ao mal, vigorosa daninha: lúcifer. e para sua asfixia. o cão e sua saliva a oscilar uma obediência insanável, o prendi ao tronco da mangueira, uma longa corrente farpada na coleira, a bacia entornando água na grama ao seu lado e um calor confinado na varanda e no quintal, e um carinho apressado em seu pêlo, um debandar de pulgas, mas não era para brincadeiras, helena, não me atrai o mau-gosto da urgência, e dois dias depois, quando regressei da viagem, um halo de moscas gravitava ao redor de seu crânio, um frenesi à tona da boca e os metros da corda enredados na árvore e não enxergaria mais a bacia onde estancar sua sede.

 

até chegarmos aos seus, helena, um pequeno líbano transplantado para os arredores, eu venerava seu pai, e o ronco da sala estraçalhava o silêncio atrofiado de uma sexta-feira e ele acordava de sua indiferença para ralhar com meu pequeno amigo, uma latência de rei exalava de suas palavras despachadas em um estranho léxico, charra alaik sharmute, e eu também senti naquele eco áspero e inflexível o contorno de uma advertência, enquanto você e suas tranças tremiam por trás dos vestidos de sua mãe, já empunhando seu masbaha e murmurando alhamdu lil-lah allah akbar, o pão sírio amorenando, o brunido agudo das azeitonas pretas, o celofane do pepino com coalhada lában mah khiar, o endiabrado adocicar do tahine, os dedos enterrados no fatuche, no tabule, a praticidade da sua família: menina bonita tem que casar com rapaz rico, não vai sofrer à toa. o zunido do rádio, um belicoso flanar de ondas forasteiras, e perigosamente hipnotizado pelo anis do arak, que me defendia do veneno da timidez.

 

ao barro das cidades rabiscadas no quintal, gigantescos basculantes numa estrada inventada, rodas de plástico perfurando as vias em viagens incansáveis, e a inocência não permitia condutores embriagados e as casas, cacos de telha, pedras, papelão e arames ferrugentos, sequer possuíam porta para isolar seus moradores imaginários. até os besouros, as saúvas, o mato adensando a poucos metros, a infinitude do terreno, enquanto o balido de um locutor repete o nome do próximo cantor do show de calouros, e o penteado de minha mãe equilibra-se em sua cabeça absorta, o fumegar das caçarolas derretendo a penúria das carnes de terceira, ah, helena, ai, ai, ai, helena, helena, era apenas sondar nossos pés engraxados pela neblina embutida no capim-cidreira, as manhãs besuntadas de brincadeiras e deste modo reluziam as coisas na opacidade exaltada da dor, esse gélido prever de incertezas, a partir do qual a fatalidade, helena, seria o imutável enxame de temores borbulhando em meu peito, o gado campeado pelos dedos vigilantes, palitos de fósforo rasgando a barriga acidentada das goiabas para a representação das pernas desses bois paralíticos e o plástico das miniaturas, marionetes em mãos descrentes, um regimento de insígnias plantado nas fardas e a severa presença de um senhor, o pirralho que vingava nos destinos de suas personagens as desgraças que ele próprio sofria.

 

um constante e fatídico rosnar emanava do abandonado quarto dos fundos, em que escondiam, entulhado entre as velharias da casa, os genes, ossos e músculos amotinados de seu irmão. receavam uma difícil fuga, helena, que as grades improvisadas não resistissem à constância de suas investidas, que o tempero de seu humor se aliasse a um poderio milagroso, que as sinapses naquele cérebro impreciso findassem em um levante bem elaborado. sua vida, seu bem-estar, sua felicidade, sua saúde, nada simbolizavam para ninguém. um pastoso e agressivo húmus que o sêmen da natureza germinou em sua cabeça, uma debilidade agônica reunida por séculos de história familiar, em cuja extensão se realçam um tataravô epilético, um bisavô tantã, até o limiar das gerações com um tio esquizofrênico e uma prima que vegeta numa dessas síndromes da moda, catalogada recentemente, séculos depois de nutrida pela astúcia e mirabolância de seu corpo.

 

ao projetor ejaculando numa tela descomunal as tolices dos trapalhões ou a violência dos blockbusters americanos, que engolíamos na acefalia da pré-adolescência, enquanto degustávamos uma bala de menta e assistíamos alertas aos ínfimos movimentos da púbere ao lado, na esperança de entrever, entre um e outro descuido, um naco de peito para compararmos aos das revistas proibidas, que furtávamos na banca do seu anastácio.

 

ao poleiro, helena, em que você transformou o ombro daquele gorila, a tatuagem carimbada em sua nuca a semelhar uma careta zombando de mim, o rosto emporcalhado de tinta amarela e verde, a matilha de preguiçosos cabulando aula na tentativa de esquecer a iminência do vestibular, enquanto trazia folgada a rédea do bom-senso ao estrondear seu profuso conhecimento de línguas e políticas estrangeiras na palavra impeachment, como se o coro desarmônico da tribo assumisse a autoridade de diminuir a voragem de uma falange de parasitas, cujo suor pinga apenas no instante de mungir os cofres do congresso, entre uma e outra festinha em estrebarias públicas, em que nuas, circulam a bandalheira e diversas garotas de programa e o barítono entoa um sole mio de contorcer taças de cristal, entre um e outro upgrade do bordão de jk: cinco anos em cinqüenta, entre uma e outra mordida nas deliciosas e rechonchudas pizzas de brasília, entre uma e outra negociação de propina. resumindo: entre um e outro afazer.

 

de volta ao derradeiro esguicho de madrugada, à cabotagem das mãos na orla da mesa, à drenagem deste meu faro, que chega ao bacilo das coisas, de volta sobretudo ao gaguejar do clarim emplumado dos galos insones e aterrissar na planta desses quartos lavrados da crueza pegajosa que a luz se aproximando através das janelas lhes dá, onde, helena, ao imprimir uma volta na geringonça da maçaneta, encontro um morcego encarcerado nos alvéolos do teto, as pálpebras preparadas para o ataque do sol, enquanto começa a flutuar um vento brando no pó das horas e o sono finalmente se ergue contra minha dor

 

 

ENGLISH VERSION

By Wiliam Lagos


i

 

in alcohol i found a father ever since that swampy night in which all excuses converted themselves into oil lamps and darkness. and i was educated to respect all those family things. all around the artificial islet in which the grange’s outer walls were set, a dam attempted to hide into it the lives (mayhap the deaths) we were not taking into account, for all that those happening inside the precinct cannot overcome the others either in their importance or in their condolences, and even the water, that throbbingly instills into the air the rebellion of its noisy, inconvenient belly, that someday we shall also bury into its chasm all those beloved ones we are temporarily anchoring into the earth, sumptuous tombstones to seal the annihilated structures, submarine excursions around the flooded necropolis during every all souls’ day, or it is only the hubbub from partying in their route toward the end, i don’t know, for all that nothing fireflied on the almost faded sky and in those forlorn eyes. mine own were two splotches enlarged by tiredness and the conscience of a single sleep, when the morrow embraces the splendor of dawn and finally chooses to go away.

 

its drunken men’s audacity is still precarious and my sight reaches only that which it cannot see and what it cannot spy are the coals melted into magma, only a couple of two flames burning into ecstasies and then the ashes, nor the ballet of a stray cat’s hemophiliac tail, nor the grass whiffing the thick night grease, nor the half-leavened food you puked out of your stomach before the feet of an indistinct shape either asleep or dead, not even the arteries of this orange-tree which feels too weak to spirit itself away from this place, nor the drowsy green on the wings of that fly which sucks from the carrion of vitals tossed over a corner of our lawn, nor the late bubbling of beer poured into the smeared, solemn mug of someone who doesn’t know anymore why he is drinking. real soon all that sloth will be mortified by the rage brought over by the hurry of forgetfulness, just like a platoon all dressed up with clean uniforms for review which all together present arms to their commanding officer only because it is high time for this. and the long blood syrup navigating the congested fleshly pipes in a heavy acceleration of boosters when the rattle of this fruitless sleep finally gives way to despair, to the trotting, to the laboring over tables in which someone resists to the enigma of a pack of cards, wavering between boredom and the will to live, how many more drafts to go? the fence taken over by ivy and the gadabouts working over today’s gossips, the boat threshing against the unfair route set toward the stones.

 

the run.

 

the dammed, untamed energy fumbling for the debris of fear, retrieving from the rubble the saturated compulsion of pain. arms and legs floundering toward a beach where waters and sand long gave up meeting. The rounded hands digging into the wavelets and now and again leaving them, allowing the wetness to haunt the already spasm-intersected breath, the closed-together fur of the algae, the vitality of a closure i shall be the only one to witness and the loneliness of this biology-disinherited void and the womb that bears me toward the return, the lacteous skin and the lonely fish swimming across beer cans, condoms, discarded baseball caps and the dust hovering slowly down and through a depth of several meters, now it is being too far away from everything. the rotten breeze, three or four bystanders are waving to me, slowly and scared-like, a drowning would not go well with them, i gather they are marching toward a boat and i let go, for i know there will time aplenty till they find me, paws grooving into the water concession, going away to a parturition, a thrilling across the air giving way to an unisonous lowering enwrapped within a porous, egotistical worry and i prayed to be taken to the dunes of cement and mud, toward the firm loam, to the slaughter before the barbecue, to the disgusting farce of enlightenments. the pain in the ass that is their company, their faces devouring the appetite for other pulps, the will to destroy everything they ask from me, both with disdain and an apathy to calm me down.

 

the old man feels amused by his own lack of teeth, hey unk, have you drunk your dentures? while they yank wide open his arcades full of amalgam and humiliate the paltriest of bipeds, not remembering the demeaning they have to take themselves every hour, even there, where the very string that cleanses their teeth from the beefsteak fibers belongs to someone else.

 

the fence, the wall, the dirt road, the unkempt veggie garden, the orchard that will not wither for lack of watering, the roof tiles and their clay barks, the caboclo half-breed farmhand turning his dismay between his fingers like tobacco rolled into a corn leaf, the tapping of whispers going away from my eardrums, and the croaking of the vines slapped by the wind while hanging from an unassuming, low wall raising before and around the house, and the gate with its metallic veins, later.

 

on days of yore those were the bread mornings, poking into its eroded skin, dried up from the blows of the old firewood oven, in the lonely breakfast of those who wake far too early, and probing the crack where i shall stick my finger to the depth of vengeances and from there I shall rescue an embryo of flour and eggs, consumed into pulps and bacteria to the rush of hunger. those days in which a scalpel slashed into the clouds with unmethodical wrath, exposing our skull to the vanity of sun, the asphalt overgrown with pimples the nails of automobiles endlessly poked into and picked at, the fat women and their carton fans, the stores weaving the monotony of ancestors’ webs, as if even the silence would disinherit that boondocks, leaving emptiness in its place, the sultry nights and the old wives quacking about the fate of the villain in the current soap opera, the lime rotting between the bricks of their nightmares, and the son soaked up by the venom of greed, the subways taken over by chagrin and crime, the rush of forgetting that death, like he always does, marches miles ahead of our imbecile trotting or else lurks behind our backs so that we can only meet him when he wants us to.

 

the cotton fabric erasing the tiny peaches of your breasts, helena, your eyelids stumbling in hangover desolation, the howling of loudspeakers dictating the grainy cadence of legs and it is then and there that the valve, unplugging the blood, breaks out the dam of lies, the velvety tubes close to the skin, the enigmatic raveling of guts, life faster than life, outside a maze of brick walls and dementia. nonetheless, helena, it is that coarseness of time that delights me, this echo of moans that sharpens my envy and thus, when your tongue, careless like that of a decadent actress, scratches somebody’s gangrened moustache i can no more tell whether you are challenging me or is this just a feature of your own showing up, that personal theatrical performance you have been calling of late, with calculated dexterity, as your ‘self-search’.

 

ever since your last pondering from a week ago and plus, to auction my sight, to throw a tunnel straight to my face, the lighting so poor, helena, that even the megawatts of noon cannot convince me the afternoon is certain to come, the unrepressed longing for running away somewhere, anywhere, where i can no longer meet my cousine getting drunk with her own piss, squatting like a frog in the imbecility of her twelve years of age, where i no longer have to take the tea with cream cookies, where i no longer must watch my aunt moldering snagged within her own rusty nerves. it was the children’s coca-cola i wanted, helena, from those bottles my granny saved for her favorite grandchildren into whose number i never belonged, i craved for that poison while my healthy body could take it, that bubbling ardency too expensive for me to afford with my allowance which i never got anyway.

 

and the backbone creaks from the sedentary life of years, this languidness of a lichen in which, while sneaking through other folks’ orchards, a gathering of concrete and grass is only to be found, a processional of ants and their slave-like singsong, the secret roaring of the gnats and a withered tree that is breaking down some walls already gone ruinous by the violence of old age.

 

fumbling at this hieroglyph of nothingness, that’s why, under the roof tiles cooked in the fat of black men’s legs, a fizz of absences thusly whips my ears and it is not only that, but the chanting of the fearful, and it is toward me that they turn and again it is on account of me that they become silent, the shrill of dumbness within the assuredness of my shadow, but another sprite hovering just there, a makeshift stage and all those rags heralding this coyness of muscles and the unction of brightness, mindless to the absurdity of their presence, from the mouth, nostrils, and ears of an old woman tied to a chair. and thence the whinnying of frights.

 

and behind all that resin, helena, i witness my aunt’s molding, that one who already gave up her bowels, from the stomach to the anus, to the slaughter of cancer, on olden times she didn’t show this bashfulness not even when she ordered me to march naked to the bath, when she rubbed my feet to bleeding pain and even then she didn’t find me clean enough to her taste and what smut was that only she suspected the existence of on me, helena? the group approved of my perplexity, after all the creature puked out by the unconscious old woman trod toward myself. a spider hoisted its own abandonment, snubbing down the silhouettes that waved their incredulity of the craven and i, persuaded that the nausea of any dialog would be useless, all illegitimate, a devotion of heresies floating on the taint of absurdity, denied her the pomp and circumstance of a ghost, i just wanted to leave that house and nonetheless, helena, this was tantamount to pillaging off symbols the praxis of an unappealable truth.

 

disemboweling the dark, that pitch foam, the furniture devastated by the savaging of white ants. then, helena, where should i aim my steps to?

 

toward the ruins of an incomprehensible christmas, to that fanfare blowing out of my grandfather’s lungs, to his aqueous cough and the bituminous phlegm of his cardiac condition, the heroic corpse pursuing after a last breath, the swampy bedrooms where the future blinked its despondent nap, the chirr of straw and springs every time i turned on my side, in a futile attempt to settle my torso in a more comfortable position while the twilight chewed me up and the coyness attained by the fear this noise would jeopardize in the next room the sleeping fury of my grandparents.

 

over her belly the telltaling embroidery of slashes and lines, a fearsome toothless sewers, exhibited like the penultimate harvest before the end and thence the smell of scum, she, harassed by medicines, hospitals, physicians, nurses, janitors, castrated by the heinous chemotherapy, still she joked: I have now another hole where he can thrust that thing in.

 

to the muslin clothing, a fabric that had not this connotation of tender condescendence while i was a child, helena, and i watch the beginning of a body, framed by the anguishing fringe of its twenty years and this is where i sniff the terminus of this abrupt disquiet, like the flatness of beaches pasted to the skin and wrapping their usual depression, which is a whistle announcing the curfew, which is a story of disdain set into the ruts on my forehead, which is that triad of family names that brings you the wealth and the arrogance to tame the world, which simply is.

 

to the impatient cockroaches that surf over the broad leaves of rubber trees, pinpointing trays with the agony of their excrement, starving rats, cautiously watching their preys, and they can no longer reckon when they will be able to nibble at another corpse, to the funky slumber over their backs, the skies above there like an orange-like splotch stinking the breezes with heat, the dead cooking within their ashamed wells, where they can smell the sweat of all those close-by bones. that’s how forty degrees centigrade, one hundred five degrees fahrenheit, boost the travel to the dust, that’s how i question clothing, helena, a naked death would not feel more adequate to these tropics that may serve as an inspiration to hell? that’s how i loosen my collar while watching the corpse and its heavy mantle of flowers and cotton fabric during this wake where only the christ is right in his freshness of spread-out arms and the skimpy rags that hide his parcel of manliness, even the electric fan is targeting his cross hanging on the wall as if it, too, understood hierarchies.

 

to the downward slope of undulating dust all over the road, the solemn building and the tired-out music, couples dispiritedly waltzing, too young, too old, mutilated from their pains for a short while, a ball nobody knows the why and wherefore of, the surly dissonance of beaten-down instruments, the musicians and the drudgery of the three-beat notes they finger, like scarecrows shooing away the flats notes that play out of the boots and wooden shoes of those creatures with no reasons to keep alive, small nothings inserted into a bigger nothing.

 

all the same, helena, it is a shiver of hatred that scratches my backbone, calloused by the pitiless beatings, when i lend myself to countless errands, when i go fetch the groceries for the lady across the street, when i go for the parcels sent to the prosthodontist, when i walk the madam’s poodle, all the while bargaining into my wish to buy a tape-recorder, my piggy bank getting fatter by the hour, before i lend my outer skin to her relief. until the moment i panhandle her wrath, i listen to her shouting my name in rage and, never letting her into the knowledge, i transfer into magnetic tape the sound of the buckle in her belt turning my back into stigmata and the desperate yelping of those who will lifelong nourish the regret for their cravenness and i think this might explain to you my bookshelves stuffed with old-fashioned cassettes from which i still believe being able to unveil the meaning of those cryptic indications on their spines, steel1, bronze2, aluminum1, brass3 when, helena, I started an inventory of metals that my engineering major rendered all the more enhanced.

 

in this moment when nimbleness renounces to your face’s delicateness, when the haughtiness of your ready-made life slips on the heels and thighs of a smart slut with whom your own father fell in love, when the transcendent temperature of your martyrdom imprints a definitive tragedy upon your features, all that is left to you is the commonplace of memory and this sweeping scorn imbibed into the disperse doses of envy tatters your pride when someone asks her just to keep the conversation flowing what were the experiences she was most marked by, whatever she mentions from her tallness simulated by the height of her four-inch wooden shoes, down her upturned nose and by the lost chance anyone had to escort her into a bedroom ever since she achieved passing for a sixteen-year-old independent woman?

 

all the while the alluring brim of darkness pitch-covers the new litter of kittens, while from the hall i eavesdrop the coagulated panting of a couple ensconced in my house bathroom, the soft falling of pants, the rolling up of a dress, all the while the vultures plot for the putrescence of every animal, all the while doveshit, sparrowshit, turtledoveshit, the crap from all kind of birds couple desperately on the veranda of my grandparents’ shack, a stinky, dried-up snow hovering over the wall i am so used to i no longer feel any disgust when sitting upon, all the while the cantankerous noise, the well-known clinking of worn-out gears, heralds my uncle’s visit, all the while, deep into the pleasure of my slumbers, i sniffed the oily lighter smell announcing the smoky victory of my grandfather’s next cigarette, and for that long while, helena, you were growing into a woman, all unknowingly watching the sliding of hours.

 

to the clods of dirt the motorcycle’s tires rush into my shirt, imprisoned within the powdery rain, the crowing of dried boughs leaving the trees in sudden dives, to my cousine and her makeup-blurred cheeks commenting flatteringly on the antiquated shoes i had just been given, this placid smile anticipating her explosions, helena, nothing capable of facing the persuading potency of the family show i had to daily watch, suffused in horror for that i presumed would turn myself into on my later years: that hovering caterpillar.

 

to the liquorish agreements inside the bars, where the vapor of conversations jams into the rims of glasses, into the sparkling beer bottles and, above all, helena, into the nightmare exhumed from the vertigo truth had been reduced to, the recurrence of the scarecrow, the crows fencing their beaks against the straw grimace, a butterfly hanging from its nose, eyes tattooed in both wings, so that, helena, every time the wind sped up the ballet of those leaves and its torso glued all the more to the manikin’s face, it was like in that succession of waving in and waving out the clown tried to see the unfocused birds, it was like he rattled the leftovers of his sight, it was like the blinking of his painted eyelids could shoo away his executioners, it was like all that he could do with his arms manacled to the branch, his body juicy of delicate hay and the passiveness of one who never could unearth his own roots and go visiting other plantations.

 

to the bookworms engineering the tunnels they had designed into my father’s moldy western story pulps, to the fila dog and his beastly docility, to his name, an awkward homage to evil, the vigorous and nasty lucifer. to his asphyxia, the dog and his spittle oscillating into an incurable obeisance, i bounded him to the mango-tree bole, a long barbed-wire chain tied to his neck, a bowl spilling water into the grass by his side and all that heat jailed between the veranda and the backyard, a mindless caress over the fur on his back, i watched the knowing fleas jumping out of him, it was no joke, helena, i am not allured by the bad taste of urgency and, two days later, when i came back from my trip, a halo of flies gravitated around his skull, a frenzy around his muzzle and yards of rope circling the tree and he could no longer see the water bowl wherein to quench his thirst.

 

until we reached your kin, helena, a little lebanon transplanted into the neighborhood, i venerated your father, helena, his snoring in the living-room shattered the wizened silence of a friday and he would only wake up from his indifference to rail with my little friend, a kingly latency exhaled from his words dispatched into a strange lexicon, charra alaik sharmute and i, too, felt within that harsh, inflexible echo the contours of an advertence, all the while you and your braids trembled behind your mother’s dresses, already holding your masbaha and whispering alhamdu lil-lah allah akbar, the darkish syrian bread, the sharp hissing of the black olives, the laban mah khiar cellophane-like cucumbers covered with curdle, the sweet devilish tahine, the fingers stuck into the fatushe and the tabule, and the practicality of your family: a pretty girl must marry a rich lad, there is no call for her to needlessly suffer, the buzzing in the radio, the warlike invasion of foreign waves and i felt dangerously hypnotized by the aniseed flavor in the arak, whose sips defended me from the poison of my own timidity.

 

to the mud of scribbled cities in the backyard, gigantic turnpikes in a make-believe road, plastic wheels perforating the ways in tireless voyages and our innocence would not allow for drunken drivers and the houses, tile shards, pebbles, cardboard, and bits of rusty wire didn’t even boast of doors to isolate their imaginary dwellers, the beetles, the large inch-long saúva ants, the bush growing thick only a few yards away, the infinity of that backyard, all the while the bleating voice of a speaker repeated the name of the next singer in the rookie show, my mother’s hairdo balancing over her engrossed head, the smoke from the frying-pans melting the scarce fat to be found in the third-quality meat, ah, helena, alas, alas, alas, helena, it was only a matter of probing with our mist-greased feet through the citron-grass, the mornings anointed with children’s play and that’s how the things shone among the pain-exalted opacity, this frozen taste of uncertainty from which fatality, helena, would become the changeless swarm of fears bubbling inside my breast, the make-believe cattle guarded by my watching fingers, the sticks of burn-out matches tearing into the shapeless abdomen of guavas so as to represent the legs of those paralytic oxen and the plastic in the few real miniatures, puppets within my unbelieving hands, a regiment of insignias planted on the uniforms and the severe presence of a warlord, a lonely kid who avenged the disgraces he suffered himself upon the fates of his toy characters.

 

a constant, fate-like growl surging from the forlorn backroom where they hid, pent-up among the crowding, discarded, old utensils from the household, your brother’s mutineer genes, bones, and muscles. they feared an unlikely escape, helena, that the makeshift bars would not resist to his constant onslaughts, that the flavoring of his humors would find an ally in a miraculous power, that the synapses within that unsteady brain would plot toward a successful rebellion. his life, his well-being, his happiness, his health meant nothing to anybody. a pasty, aggressive turf where the seeds of nature took root inside his head, an agonic feebleness gleaned together by centuries of your family history, as far back as could be remembered including an epileptic great-great-grandfather, a doddering great-grandfather to the threshold of the present generation with your schizophrenic uncle and that cousin vegetating within one of the last fad syndromes, only recently catalogued, centuries after being nourished by the cunning, discombobulated shrewdness her body boasted of.

 

to the projector ejaculating unto a humongous screen the trapalhões[1] clownishness or the violence of american blockbusters, all those features we swallowed in our preteen years acephaly, all the while sucking on mint candy, all the while watching from the corners of our eyes the least movements of the pubescent girl sitting by us, in the hope of, by dint of her carelessness, we could half-see a slice of her breasts we could later compare to those in the forbidden magazines we stole from mr. anastácio’s corner newsstand.

 

to the perch, helena, into which you transformed that gorilla’s shoulder, the tattoo stamped on its nape, just like a grimace scorning me, the face smeared with green and yellow paint, the pack of lazybones skipping their classes in an aimless attempt to forget the imminent entrance exams, all the while keeping loose the reins of soberness, all the while proclaiming their profuse knowledge of foreign languages and politics expressed by the newly-learned word, impeachment, as if the disharmonic choir of our tribe took over the authority to diminish the voraciousness of a parasitic phalanx, whose sweat only drips in the act of sucking at the congress coffers’ collective teats, between one and the next party in the public stables where both corruption and several call-girls circulate naked and the baritone pitches forth a crystal-goblet-trembling o sole mio between one and the next upgrade of jk’s motto: five years in fifty[2], between one and the next bite in the delicious, fat Brasilia pizzas, between one and the next negotiation for still another bribe, in short, between the completion of one and the next of their civic duties.

 

back to the last squirt of morrow, to the scaling of hands around the table’s edge, to the draining of my smell, to the reaching into the bacillus of things, to the homecoming while listening to the feathery bugle of sleepless roosters and the landing on the floor of those bedrooms carved out of a sticky crudeness given them by the early light closing into the windows where, helena, when i impress a turn on the doorknob’s gadgetry, i find a bat jailed among the alveoli of rafters in the roof, eyelids ready to fend off the sun’s onslaught, meanwhile a bland wind begins to hover upon the dust of hours and the sleep finally rises as a firewall against my pain.

 

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[1] os trapalhões [the blunderheads] were a troupe of four comedians led by renato aragão [didi] who achieved great success while playing on sketches presented on a brazilian tv network from the seventies to the nineties. (translator’s note).

 

[2] “jk” is short for juscelino kubitschek, the brazilian president at the time of reference, also the initial builder of the new federal capital city, brasilia; his motto is herein inverted, the original was ‘fifty years of progress in five’, never accomplished; also a reference to the popular saying, ‘Everything ends in pizza’, meaning that all debates and scandals in brazilian congress ended by the opponents sitting together to share the slices of a pizza, a metaphor for ‘bribe’. (translator’s note).